OLINDA - Após os depoimentos que revelaram detalhes cruéis dos crimes de
esquartejamento e canibalismo em Pernambuco, o julgamento de Jorge Beltrão
Negromonte da Silveira, Isabel Cristina da Silveira e Bruna Cristina Oliveira
da Silva foi reiniciado nesta sexta-feira. A previsão da juíza Maria Segundo
Gomes, que preside o júri popular, é de que os trabalhos sejam finalizados até
o fim do dia. Os réus podem ser condenados a até 30 anos de prisão.
O julgamento é referente ao
assassinato da jovem Jéssica Camila da Silva, em 2008, na cidade de Olinda. Ela
era moradora de rua em um bairro da Zona Sul de Recife e, após se mudar para a
casa dos três acusados, que formavam um triângulo amoroso, foi morta a golpes
de faca, esquartejada e teve sua carne consumida pelo trio. Segundo os
acusados, a intenção era ficar com a filha da vítima, já que não conseguiam ter
filhos. De acordo com as investigações, a criança, na época com menos de 2
anos, teria consumido a carne da própria mãe.
Os crimes cometidos pelo trio canibal
foram descobertos na cidade de Garanhuns, no Agreste do estado. Na cidade, eles
enterraram os restos mortais de duas mulheres. Os acusados confessaram à
polícia fazer parte de uma seita chamada “Cartel”, que pregava a purificação
humana e o controle populacional. Para isso, eles escolhiam vítimas, como
mulheres que tinham muitos filhos, mas não possuíam condições de criá-los.
A defesa de Jorge Negromonte,
realizada por meio da defensora pública Tereza Joacy, tenta provar que o
acusado sofre de esquizofrenia. No caso das defesas de Bruna e Isabel, a tese é
de que Jorge exercia grande influência sobre elas e cometia os assassinatos nos
rituais satânicos. A alegação é de que as duas mulheres tinham uma dependência
emocional muito grande de Jorge.
Para a promotora Eliane Gaia, do
Ministério Público de Pernambuco (MPPE), os laudos periciais confirmam que os
réus não sofrem de problemas mentais. Durante o julgamento, ela irá revelar
mídias que mostram traços do comportamento do trio.
— Tudo está muito claro depois dos
depoimentos dos réus e das testemunhas, que só fez coroar as provas nos autos
do processo. O único ponto que a defesa tem é se apegar a essa questão dos
laudos. Todos dizem que eles não são loucos. O que resta aos acusados é
questionar o perito. Ninguém estava forçado a nada.
A juíza responsável pelo julgamento
contou que os depoimentos dos réus na quinta-feira foram surpresa até para ela,
já que o trio se manteve em silêncio nas audiências de instrução. A intenção é
acabar o julgamento ainda nesta sexta-feira. A juíza vai determinar a pena, e
os sete jurados decidirão se os réus são culpados ou inocentes.
Os réus foram denunciados pelo MPPE
por homicídio quadruplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel,
impossibilidade de defesa da vítima e com a finalidade de assegurar a
realização de outras práticas criminosas), vilipêndio (prática cometida contra
o corpo de um ser humano) e ocultação de cadáver.
DEPOIMENTOS
Na quinta-feira, os réus confessaram
a participação no assassinato de Jéssica Camila da Silva. Em detalhes, Jorge
revelou que a seita criada pelo trio pedia o consumo de carne humana para
purificar o corpo das vítimas. O acusado agia dando um golpe de faca no pescoço
da vítima, para que todo o sangue fosse retirado do corpo. A carne humana era
colocada em um refrigerador e depois cozinhada como uma refeição normal, com
sal e temperos.
Isabel disse não participar dos
crimes, apesar de participar da ocultação dos cadáveres. Ela contou que a
intenção era ficar com a filha da vítima, e não matá-la. Por sua vez, Bruna
Cristina acusou Isabel de ser a mandante dos crimes e a cabeça de todo o
esquema. Todos consumiam carne humana.
O assassinato de Jéssica Camila da
Silva Pereira foi o terceiro descoberto e atribuído pela Polícia pernambucana
ao trio, que vivia uma espécie de triângulo amoroso. Os crimes começaram a ser
descobertos em 2012, quando restos mortais de duas mulheres foram encontrados
enterrados no quintal da casa dos acusados, no município de Garanhuns. Com os
três, morava uma menina de 5 anos, filha de Jéssica Camila. O processo
relacionado às outras duas vítimas corre em segredo de justiça e não tem
previsão de julgamento.
O caso veio à tona depois que parentes
de Giselly Helena da Silva denunciaram o seu desaparecimento, em Garanhuns, em
2012. Os acusados usaram o cartão de crédito da vítima em lojas da cidade e
foram localizados. Na casa onde moravam, os restos mortais de Giselly e também
de Alexandra Falcão da Silva foram encontrados enterrados, em local apontado
pela filha da primeira vítima do trio.
(Texto e fotos: Agência Globo).
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