O órgão diz que o corte da internet ao fim da franquia
contraria o Código de Defesa do Consumidor
O Procon do Rio de Janeiro entrou
com uma ação civil pública contra as operadoras de telefonia Oi, TIM, Vivo e
Claro devido ao bloqueio do acesso à internet após o esgotamento da franquia de
dados no celular. A ação, que corre na 5ª Vara Empresarial, foi protocolada
nesta terça-feira (24), um dia após o Ministério da Justiça pedir esclarecimento às empresas sobre o
novo método de cobrança.
O bloqueio da internet ao fim das franquias tem sido adotado
gradativamente pelas principais operadoras do país desde o final do ano
passado. Antes, ao fim do limite do pacote de dados, as empresas, ao invés de
cortar o serviço, reduziam a velocidade do acesso. Agora, caso queiram manter
conexão à rede, os usuários devem contratar pacotes extras.
Ao classificar a medida das operadoras como
"má-fé", o Procon-RJ pede a concessão de uma liminar para que o
consumidor continue a utilizar o serviço de acesso à internet nos termos que
foram contratados, além de uma indenização aos clientes lesados.
O órgão requer ainda que a interrupção do serviço venha a ser
praticada apenas nos contratos firmados após a data em que esta ação civil
pública foi instaurada. As operadoras de telefonia deverão também elaborar
cláusulas contratuais claras e objetivas, que expressem de forma ostensiva a
limitação e o alcance do serviço. O não cumprimento de cada uma das exigências,
segundo a ação, está atrelado a uma multa diária de R$ 50 mil.
A mudança dos contratos pré-estabelecidos, como justificou o
Procon-RJ, contraria o Código de Defesa do Consumidor por ter sido feita sem
consultar os clientes.
A Vivo e a Claro informaram não ter sido notificadas
oficialmente sobre a ação. Por meio de nota, a TIM disse que o "bloqueio
do acesso à internet busca oferecer uma melhor experiência de navegação móvel e
reitera que a medida é aderente às normas da Anatel." Já a Oi afirmou
que não vai comentar o assunto.
Ação das operadoras
A primeira a adotar o novo modelo de cobrança foi a Vivo, que
desde 6 de novembro de 2014 tem cortado o acesso à rede dos clientes pré-pagos
e controle. O corte foi iniciado em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas,
segundo a empresa, já foi implementado nacionalmente. "O mesmo ajuste
deverá ser realizado nos próximos meses para os clientes pós-pagos", disse
a operadora por meio de nota.
Medida similar foi adotada pela Oi, que desde 1º de dezembro
tem bloqueado o acesso à internet dos usuários dos planos pré-pagos e Oi
Controle em todo o país. A empresa, no entanto, não informou se pretende ou não
expandir o modelo de cobrança aos planos pós-pagos, tampouco qual seria o prazo
para essa adequação.
Já a TIM anunciou que a partir de 20 de março bloqueará o
acesso à internet de clientes que atingirem a franquia mensal de planos
pós-pagos. A alteração, que desde dezembro já tem atingido os planos pré-pagos
e controle da operadora, vai atingir clientes dos planos Infinity Pós (que não
é mais comercializado), Liberty, Liberty Express e Liberty Web (para tablets e
modem) por todo o país. O bloqueio do plano pós-pago Liberty no Rio Grande do
Sul, em Pernambuco e na área de DDD 19, no interior paulista, também já vinha
sendo implementado de maneira gradativa e será concretizado até 18 de março.
A Claro já trabalha com o bloqueio da internet aos clientes
pré-pagos e Controle que atingirem o limite da franquia contratada, no interior
de São Paulo e nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul,
Rondônia, Acre, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas
Gerais, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, no
Distrito Federal e, amanhã, em Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Para as demais regiões, o bloqueio acontecerá em breve, mas ainda sem data
definida.
Anatel não se opõe à medida
Com o anúncio das operadoras no ano passado, a Anatel
(Agência Nacional das Telecomunicações) informou na época que já esperava esse
tipo de medida das companhias. O órgão vê essa mudança na forma de cobrança
como uma forma de compensar a queda de receitas nos serviços de voz -- com o
uso de internet, as pessoas passaram a fazer menos ligações.
Em entrevista ao "Convergência Digital", Elisa Peixoto,
superintendente de relações com os consumidores da Anatel, disse que não haverá
influência da agência sobre as operadoras.
"A Anatel não colocará nenhum entrave à cobrança no caso
do excedente da franquia. O futuro da receita do setor é o tráfego de dados e é
um movimento natural que a gente passe a ver cobrança desse serviço, sob pena
de não haver recursos para investimento na rede. Toda a vez que o consumidor
tinha a redução de velocidade no fim da franquia passava por uma falsa
percepção de que o problema era na qualidade da rede", disse.
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