Com a saúde debilitada e fragilizada os sete militantes chegam
ao 19º dia da greve de fome em defesa da liberdade do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Em cadeiras de rodas e em camas hospitalares eles estão
convictos da decisão e pretendem manter a greve até o limite para alcançar o
objetivo que é conseguir que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue as ações
declaratórias de constitucionalidade (ADCs), que questionam a possibilidade de
prisão após condenação em segunda instância.
Eles passaram a usar cadeiras
de rodas e camas hospitalares desde sexta-feira (17). Segundo a porta-voz do
movimento, Soniamara Maranho, do Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB),
eles estão convictos da decisão, que também busca o direito do ex-presidente
Lula de se candidatar às eleições de 2018, e caso ocorra algo com algum deles,
há o desejo de serem velados na Praça dos Três Poderes.
“Eles têm dito todas as
manhãs quando nos reunimos com eles para fazer uma análise de conjuntura e, ao
mesmo tempo olhar a agenda do dia e olhar a pressão que a gente vai fazer para
então que eles sejam atendidos, é de que a greve continua muito firme até que a
Cármen Lúcia coloque em votação as ADCs”, relata.
A greve está sendo feita pelo
Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores
(MPA), Luiz Gonzaga, o Gegê, da Central dos Movimentos Populares (CMP), Jaime
Amorim, Zonália Santos e Vilmar Pacífico, ambos integrantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Leonardo Soares, militante do Levante
Popular da Juventude.
Entre eles há os que já
perderam 10 kg nestes dias sem se alimentar. A glicemia, que é o açúcar no
sangue, tem tido alterações constantes, assim como tem sido frequente quedas da
pressão arterial e da temperatura corporal, fatores que tem deixado a Equipe de
Saúde da Greve de Fome em alerta permanente.
As camas hospitalares são,
além de permitir maior conforto, para evitar qualquer tipo de contato dos
manifestantes com bactérias ou germes, pois eles estavam dormindo em colchões
no chão do Centro Cultural de Brasília (CCB), onde estão desde o início da
greve. As cadeiras de rodas passaram a serem usadas para evitar que eles façam
esforços, mesmo quando vão tomar sol no pátio do prédio. Segundo o médico,
Ronald Wolff, está havendo um grande apoio aos grevistas.
“Eles estão sim realmente bem
fracos, mas resistindo muito enquanto a mente está boa. Eles estão recebendo
muito carinho das pessoas que vêm visitá-los. A equipe de apoio tem sido muito
gentil com eles procurando sempre um assunto que eleve o humor”, afirma.
Com experiência de cuidar
pela quarta vez de manifestantes em greve de fome, Wolff relata preocupação,
mas informou que os sete fizeram exames médicos, recebem massagens, aplicação
de reiki – terapia capaz de revitalizar o corpo – e acupuntura. Eles
ainda participam de rodas de conversas e leituras para manter a atividade
intelectual. Acompanhados por médicos, enfermeiros e psicólogos os grevistas
têm como sintomas pela falta de alimentação, a queda de glicose no sangue e da
temperatura corporal, fadiga e dores musculares.
Mesmo com o estado de saúde
debilitado, eles estão atentos à conjuntura nacional e chamam atenção para o
fato de o Estado brasileiro desconhecer a determinação da Organização das
Nações Unidas (ONU) para que o ex-presidente Lula tenha o direito de disputar o
pleito deste ano e para que sejam assegurados seus direitos políticos.
“Se a ONU está falando, se o
mundo está olhando para o Brasil com esses olhos, tem a esperança e a convicção
de que ele é um preso político. O que está acontecendo no Brasil que não se
toma as medidas verdadeiras ou cabíveis diante dessa conjuntura? ”, indaga
Soniamara.
Para o médico Wolff, há uma
esperança que a decisão da ONU também ajude a sensibilizar o Judiciário
brasileiro em prol do ex-presidente Lula. “As forças nacionais, as forças vivas
da sociedade brasileira, a Organização das Nações Unidas, figuras ilustres como
o Frei Leonardo Boff, como Adolfo Perez Esquivel – o prêmio Nobel da Paz – vêm
aqui e se colocam ao lado deles. Será que estão todos errados, equivocados,
desprovidos de lucidez? ”, questiona.
A greve de fome tem
mobilizado diversos movimentos e entidades, assim como lideranças
progressistas, que têm constantemente feito visitas ao centro cultural para ver
os manifestantes. Na sexta-feira (17), integrantes do Fórum Nacional Pela
Democratização da Comunicação (FNDC) e do Intervozes estiveram com os
grevistas. Como tem sido rotina, os sete manifestantes fizeram em frente ao
prédio do Supremo Federal em Brasília (STF) um novo ato ecumênico em defesa da
liberdade do ex-presidente Lula.
Para os próximos dias, os
manifestantes aguardam serem recebidos em audiência pelos demais ministros do
Supremo, eles já estiveram com a presidente do STF, Cármen Lúcia, Ricardo
Lewandowisk e a assessores de Gilmar Mendes.
Os grevistas solicitaram
audiência nos gabinetes da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Rosa Weber, que levará a julgamento no início de setembro os pedidos de
impugnação do registro da candidatura de Lula, além dos ministros do STF, Dias
Toffoli, Marco Aurélio Mello e Alexandre de Morais.
Edição: Lilian Campelo
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