O número de mortes relacionadas com depressão cresceu 705% no
Brasil, mostra levantamento inédito feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com
base nos dados do sistema de mortalidade do Datasus. Estão incluídos na
estatística casos de suicídio e outras mortes motivadas por problemas de saúde
decorrentes de episódios depressivos.
Foi a depressão, somada à dependência química, o que
provavelmente levou o ator americano Robin William, de 63 anos, a se matar, na
segunda-feira passada, dia 11. Os dados mostram que, em 1996, 58 pessoas
morreram por uma causa associada à depressão. Em 2012, último dado disponível,
foram 467.
O número total de suicídios também teve aumento significativo
no Brasil. Passou de 6.743 para 10.321 no mesmo período, uma média de 28 mortes
por dia. As taxas de suicídio são muito superiores às mortes associadas à
depressão porque, na maioria dos casos, o atestado de óbito não traz a doença
como causa associada.
No Brasil, a faixa etária correspondente à terceira idade é a
que reúne as estatísticas mais preocupantes. No caso de mortes relacionadas à
depressão, os maiores índices estão concentrados em pessoas com mais de 60
anos, com o ápice depois dos 80 anos.
No caso dos suicídios, embora os números absolutos não sejam
maiores entre os idosos, a maior taxa de crescimento no período analisado
ocorreu entre pessoas com mais de 80 anos. Entre 1996 e 2012, o suicídio
cresceu 154% nesta faixa etária.
Causas
Segundo especialistas, o aumento de suicídios e de mortes
associadas à depressão está relacionado com dois principais fatores: o aumento
das notificações e o crescimento de casos do transtorno. "Como o assunto é
mais discutido hoje, há maior procura por atendimento médico e mais
diagnósticos. Mas também está provado, por estudos epidemiológicos, que a
incidência da depressão tem aumentado nos últimos anos, principalmente nos
grandes centros", disse Miguel Jorge, professor associado de psiquiatria
da Unifesp.
Jorge explica que, além do componente genético, que pode
predispor algumas pessoas à doença, fatores externos da vida atual, como o
estresse e a grande competitividade profissional, podem favorecer o
aparecimento da doença.
No caso dos idosos, a chegada de doenças crônicas incuráveis,
o luto pela perda de pessoas próximas e a frustração por não poder mais
realizar algumas atividades os tornam mais vulneráveis à depressão e ao
suicídio. "Um estilo de vida estressante, o uso de drogas e álcool e
insatisfação em diversas áreas são fatores de risco para a doença. Fazer
escolhas pessoais e profissionais que ajudem a controlar esses fatores é uma
forma de prevenir a depressão", diz o especialista.
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