segunda-feira, 15 de junho de 2015

Suspeito de matar estudante de 14 anos pelo crime de homofobia é preso em Cariacica na Grande Vitória ES


Pouco mais de um dia após o corpo do estudante Rafael Melo ter sido encontrado com marcas de pauladas e pedradas no bairro Santa Catarina, em Cariacica, o culpado foi revelado.

Gleisson Pereira Miranda, de 26 anos – que é primo e irmão de criação do padrasto da vítima – foi apontado pela polícia como o assassino do adolescente. A principal hipótese é de que o crime tenha acontecido após uma tentativa de abuso sexual contra o menino.

Gleisson foi autuado por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima e será encaminhado ao Centro de Triagem de Viana. Uma peça-chave para que a polícia chegasse ao nome do assassino foi o depoimento da irmã de Rafael, de apenas 11 anos.

De acordo com delegado Rodrigo Sandi Mori, que está a frente do caso, a menina viu quando Rafael e Gleisson saíram juntos da casa da família um pouco antes das 6h da manhã do sábado. Cerca de dez minutos depois, ela também saiu da residência para tomar café na casa da avó e, neste momento, presenciou Gleisson ao lado do corpo de Rafael, a cerca de 30 metros de distância de onde ela estava. Em seguida, o tio correu em direção a um matagal.

Apesar de o crime ter ocorrido na manhã de sábado, a irmã de Rafael só relatou ontem o que viu. Antes que a polícia chegasse ao bairro, ela já havia sido levada para casa de tios, após a família ter sido alertada por um vizinho. “Eu moro em frente à casa da avó. Vi o Rafael às 6h em frente à casa dela e depois entrei para dentro de casa. Quando voltei às 6h20 a irmã dele estava lá e ele não estava mais. Pensei que ela pudesse estar correndo perigo e alertei todo mundo”, contou a testemunha.

Suposto abuso

Baseado nos depoimentos, incluindo os da mãe de Rafael, Wanderléia Barbosa, e do padrasto, Rogério Pereira Miranda, o delegado afirma que a principal possibilidade é que Gleisson tenha matado o estudante após tentar abusar sexualmente dele. Gleisson conhecia Rafael desde os cinco anos e, há dois meses, quando foi morar na casa do irmão de criação, passou a dividir o mesmo quarto com o adolescente.

No entanto, a polícia não descarta a hipótese de homofobia, já que os relatos também dão conta de que Gleisson agredia Rafael verbalmente, utilizando palavras como “viadinho” e “boiolinha”. As roupas de Gleisson foram encaminhadas para a perícia e, segundo o delegado, tinham vestígios de sangue.

"Não imaginava uma coisa tão bárbara”, diz mãe

Foto: Guilherme Ferrari
Wanderléia: "É difícil acreditar que um parente fez isso"
Indignação. Este é o sentimento da mãe de Rafael, Wanderléia Barbosa, após descobrir que o jovem o qual chamava de cunhado, está sendo acusado pela morte de seu primogênito. A dona de casa acredita que o crime ocorreu após Rafael ter reagido contra uma tentativa de abuso sexual por parte de Gleisson e agora pensa em se mudar do bairro por medo. “Ele pode sair, mesmo que daqui a 30 anos, e querer fazer alguma coisa contra a gente”, afirma.

Gleisson morava na casa de Wanderléia há cerca de dois meses por não ter onde morar. No entanto, ela reconhece que o irmão de criação de seu marido costumava ser agressivo, principalmente quando contrariado.

“Eu sabia que ele se envolvia com gente errada, mas não imaginava uma coisa tão bárbara”, diz a dona de casa, que acrescenta: “É difícil acreditar que um parente fez isso. Queria que acontecesse com ele pior do que aconteceu com meu filho. Vou esperar a justiça divina”.

Oração na despedida de Rafael

Foto: Guilherme Ferrari
Amigos e parentes se emocionaram no momento em que o corpo de Rafael foi sepultado
A oração do Pai Nosso foi que quebrou o silêncio ao redor do caixão simples que guardava o corpo do estudante Rafael Barbosa Melo, 14 anos, morto a pedradas e pauladas, em Cariacica, durante o sepultamento. O garoto foi enterrado, na manhã de ontem, na presença de poucos familiares e vizinhos, no cemitério municipal Jardim da Saudade, em Nova Rosa da Penha, em Cariacica.

Antes de saber que irmão de criação de seu marido seria preso apontado como o assassino de seu filho, a mãe do estudante, a dona de casa Wanderléia Barbosa, 33 anos, disse que filho foi morto por ser homossexual. “Eu acho que fizeram isso com ele pelo jeito dele ser, implicavam muito com o jeitinho de menina. Para mim, ele pode ter sido morto por ser gay, na verdade, acho que alguém falou algo que ele não gostou e teria respondido e aí fizeram isso”, contou.

No local onde Rafael foi encontrado, uma estrada de chão usada por ele para chegar ao colégio no bairro vizinho, a polícia encontrou um pedaço de viga de concreto, pesando mais de 20 quilos e pedaços de madeira. O menino usava uma camisa regata, uma calça jeans e pés descalços.

O corpo foi encontrado por volta das 8 horas. De acordo com a família, Rafael tinha o costume de sair cedo de casa para tomar café na casa da avó, a duas quadras de distância.

A mãe do estudante contou que Rafael era aluno do 7º ano do Ensino Fundamental, frequentava a igreja e era muito atuante no grupo de jovens. O sonho dele era ser estilista. Ao ser questionada se o fato do filho ser homossexual a incomodava, a dona de casa disse que aceitava, apesar de descrever que desejava o contrário. “Eu tinha fé em Deus que poderia Ele modificar meu filho e talvez o Rafael não seria aquilo. Mas, mesmo assim, eu estava aceitando o jeito dele”, disse a mãe.
Gleisson Pereira Miranda é suspeito de ter matado o estudanteAcusado se defende

“Eu não matei ninguém. Minha roupa não está suja de sangue não. A gente (ele e Rafael) se dava bem. Eu não xingava ele, é mentira. Eu não vi ele acordando. Eu estava dormindo e só acordei quando meu irmão chegou procurando por ele. Aí eu acordei junto com meu irmão e fui procurar ele. Eu vi o corpo quando estávamos caçando ele, mas não saí correndo de lugar nenhum. Mais cedo ou mais, tarde a verdade aparecer. Vou pagar por uma coisa que eu não fiz. Eu conheço o Rafael desde criança, mas não conversávamos muito porque ele era reservado”.

Suspeito era usuário de cocaína, diz padrasto

Cerca de três dias antes do assassinato de Rafael, o padrasto do adolescente, Rogério Pereira Miranda, já havia notado um comportamento estranho por parte do irmão de criação, que também não compareceu ao velório e ao enterro do sobrinho.
Mesmo assim, o pedreiro – que também prestou depoimento na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas foi descartado como suspeito - conta que não imaginava que Gleisson tivesse ligação com o crime. No entanto, ele lembra que o irmão tinha um comportamento violento e que era usuário de cocaína.

Foto: Guilherme Ferrari
Rogério é primo e irmão de criação do suspeito
“Uns dias antes, o Gleisson sempre ficava nervoso, descontrolado, chegou a xingar minha mãe. Eu perguntei o que ele tinha, mas ele disse que estava tudo bem. Depois que ele fez isso com Rafael, ele ficou falando para minha mãe que queria ir embora do bairro, que iria para Serra (Timbuí) para catar café e pediu até dinheiro a um vizinho. Mas minha mãe disse que ele só poderia ir depois da investigação”, conta.

Para Rogério, que conviveu com Rafael desde pequeno, o crime cometido pelo irmão foi um grande golpe. “Estou sem palavras. Acho que o que ele fez foi muito cruel. Não dá para confiar nem na própria família”.

Rogério é primo e irmão de criação do suspeito

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