A presidenta Dilma Rousseff foi novamente alvo de comentários
misóginos e machistas. Desta vez, o ataque partiu da cúpula da empreiteira Andrade
Gutierrez. Em um grupo no aplicativo WhatsApp, executivos da companhia usaram
termos pejorativos e ofensivos para se referirem à presidenta da República.
As conversas ocorreram em 2014, durante a campanha à
Presidência da República. A empresa foi a principal doadora da candidatura de
Aécio Neves (PSDB). As 322 doações somaram mais de R$ 20 milhões.
Os diálogos ficaram conhecidos após a apreensão do telefone
celular de Elton Negrão de Azevedo Júnior. O ex-executivo da Andrade chegou a
ser preso em função das investigações da Operação Lava-Jato.
A socióloga e integrante do Centro Feminista de Estudos e
Assessoria (CFMEA), Masra de Abreu, classificou como “bizarra” a forma como
“diretores engravatados de uma das maiores empresas do Brasil” falam sobre a presidenta,
“sem a menor vergonha”.
“O fato de Dilma estar em foco e dentro de uma disputa até
desleal dá força ao machismo institucional”, analisa. “Legitima-se uma fala
pejorativa, discriminatória e machista”, acrescenta.
Antes mesmo de candidatar-se à Presidência, quando ainda era
ministra de Minas de Minas e Energia e, depois, ministra-chefe da Casa Civil,
circulavam comentários ou notícias na imprensa que davam maior destaque a
questões sexistas do que às suas ações à frente das pastas.
Os discursos misóginos se agravaram com a ascensão de Dilma
como candidata e, em seguida, como presidenta da República. A secretária
Nacional de Mulheres do PT, Laisy Moriére, afirma que as manifestações são uma
representação do machismo latente na sociedade brasileira.
“A situação sempre se repete quando é mulher no poder. Como
tratava-se de um grupo fechado (no WhatsApp), eles tiveram tranquilidade para
expressar o que pensam e demonstrar quanto a sociedade brasileira ainda precisa
avançar”.
Este ano, a presidenta foi alvo de uma ameaça de morte por um
advogado que concorreu a deputado distrital no Distrito Federal pelo PSDB. Em
vídeo divulgado nas redes sociais, o então tucano declarou que iria arrancar a
cabeça de Dilma se ela não renunciasse.
Meses antes, um adesivo com a chefe de Estado brasileira para
colar na entrada de tanques de combustível de carros causou revolta. “Quando a
presidenta da República é atacada dessas formas, todas as brasileiras também o
são. Este é mais um motivo pelo qual as mulheres devem estar com Dilma”,
defendeu a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
Para Laisy, é impossível construir uma sociedade democrática
tendo a misoginia como um dos pilares. “Quando uma mulher está disputando com
um homem, a ideia se perde e o foco passa a ser o corpo da mulher, suas roupas,
seu comportamento, entre outros itens que não importam no debate público. Isso
é totalmente nocivo à democracia”, critica.
“Enquanto as ofensas à presidenta são frequentes, há uma
espécie de vista grossa em relação a Aécio desde o processo eleitoral”, destaca
Masra. Os comentários se agravam no momento de dificuldades financeiras do
País.
Andrade Gutierrez – No grupo “presidentes AG”, os
executivos deixam clara a sua predileção pela vitória do tucano Aécio Neves. A
empresa, no entanto, beneficiou-se com o crescimento econômico promovido
durante as gestões petistas.
Por ser uma das principais empreiteiras brasileiras, a
Andrade Gutierrez saiu vitoriosa de licitações públicas e ainda expandiu seus
negócios fora do País, sobretudo em nações africanas.
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