Movimento da Base - MOB,
lança manifesto histórico sobre defesa da candidatura própria do PT em
Pernambuco.
As eleições presidenciais e estaduais estão chegando e,
novamente, a pauta das “alianças políticas” entre partidos volta ao centro do
debate. Desta vez, num novo cenário ainda mais tenebroso para o PT/PE do que
foi a disputa interna nas eleições municipais de 2012, que revelou a ruptura
ideológica com as suas bases e a intensa disputa de poder entre grupos e
tendências do partido em Pernambuco. No entanto, se já não bastasse, tudo isso
aliado ao aprofundamento do golpe de 2016, a condenação de Lula e a sombra de
um estado de exceção no País.
Sabemos que uma aliança política nada mais é do que um acordo ou
pacto entre duas ou mais partes, que objetivam a realização de ideias e
interesses comuns. Normalmente, esses acordos se dão com o objetivo de atingir
o poder.
Não é apenas a prática do PT que se observa a intencionalidade
em abandonar os interesses políticos e ideológicos por interesses meramente de
poder, pos esse abandono nos trouxe consequências devastadoras, como o desgaste
politico e erros de condução com algumas coligações feitas. Sendo unânime que
se faça necessária uma autocritica profunda e fraterna.
Mesmo diante da crise, esperava-se que o PT/PE pudesse, a partir
dos seus equívocos, renovar-se e fortalecer-se junto a sua militância, mas,
infelizmente o que vemos mais uma vez, é uma disputa interna e por interesses
rigorosamente pessoais nos quais o partido não dialoga e não respeita a base
que decidiu, em encontro de instância partidária, pela candidatura própria.
Assim, a maioria dos militantes se expressa contra a aliança com o PSB/PE por
tudo que este partido representou no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff,
a traição ao PT em Pernambuco em 2012 e pela péssima gestão a frente do Estado
e Prefeitura do Recife, motivo de crítica e desaprovação da população
pernambucana.
Nós do MOB – Movimento de Base, sem vínculo com tendências
internas no partido, enquanto grupo de militantes e filiados ao Partido dos
Trabalhadores, vimos a público externar nossa posição em relação ao debate
estadual sobre as eleições de 2018 e, por isso, não poderíamos nos expressar,
sem resgatar a memória, as eleições do início dos anos 2000 até os dias atuais.
No ano de 2000, com a ascensão do PT ao governo municipal do
Recife, conseguiu– se um feito que mudou radicalmente a forma de fazer politica
e a inversão de prioridades na vida das pessoas. Em Recife, com o lema “A
Grande Obra é Cuidar das Pessoas”, a prefeitura deixou um legado de
participação, democracia e mudanças importantes em todas as áreas das políticas
públicas de saúde, educação, mobilidade urbana, cultura, habitação, etc. nos
governos petistas durante os doze anos à frente da gestão municipal.
Em 2002 com a eleição do primeiro candidato operário Luiz Inácio
Lula da Silva à Presidente da República, houve em Pernambuco uma candidatura
petista, na disputa estadual, que obteve mais de um milhão de votos chegando ao
segundo lugar. Já em 2004, fomos para a reeleição em Recife, com uma vitória já
no primeiro turno, resultado de um trabalho inovador, recheado de bons
resultados na implantação de políticas públicas à frente da Prefeitura, e com
investimentos federias, jamais visto pelo município, fruto da parceria com
governo Lula.
Chegamos em 2006 e tivemos uma eleição atípica no estado, com o
pleito para reeleição do Presidente Lula e duas candidaturas ao governo do
Estado postas no campo da “esquerda”: O PT com Humberto Costa e PSB com Eduardo
Campos. Em Pernambuco, Lula se colocou com neutralidade, levantando os braços dos
dois citados candidatos, com a seguinte frase: ”votem em qualquer um dos dois e
estarei representado pelo que ganhar”.
O resultado foi uma denúncia sobre a
operação da Polícia Federal denominada “vampiros”, que tirou o favoritismo do
então candidato em primeiro lugar nas pesquisas, Humberto Costa do PT. Até hoje
nos perguntarmos de onde saíram as propagandas (material publicitário) da
denúncia, tão benéfica ao PSB naquele momento, que amargava o terceiro lugar e
se tornou vitorioso. Aliás, muito distante na disputa, segundo pesquisas da
época.
Com a derrota anunciada, ainda na contagem dos votos, o então
candidato petista, já anunciava o apoio do PT ao candidato do PSB. A partir daí
percebemos, pois ficou bastante explicito, que as decisões deixavam de passar
por consultas às bases, rompendo assim com o processo de democracia interna,
para tomadas de decisões individuais e monocráticas ou de uma cúpula do
partido.
Ano de 2010, o grande desafio: eleger a sucessora de Lula, que
deixa a presidência com mais de 82% de aprovação. Aqui em Pernambuco, o
governador do PSB se reelegeu com mais de 80% dos votos o que se transformou em
um massacre eleitoral ao exgovernador Jarbas Vasconcelos. Nessa eleição, foram
eleitos os senadores Armando Monteiro pelo PTB e Humberto Costa pelo PT.
O
detalhe curioso e já preocupante nessa eleição foi à imposição do suplente
Joaquim Francisco, historicamente de direita (ARENA, PDS e PFL) e naquele
momento filiado ao PSB. Tal imposição foi feita ao candidato do PT, Humberto
Costa. O mesmo não acontecendo em relação ao outro candidato, Armando Monteiro
do PTB, que colocou como suplente alguém do seu partido. Observou-se, novamente
o PSB traçando os caminhos que o PT deveria seguir a partir da estratégia
traçada pelo PSB de Eduardo Campos.
O ano 2012 ficou conhecido pela experiência traumática para o PT
do Recife. Independente da baixa avaliação popular que o candidato à reeleição
do PT, João da Costa, ostentava na época - aqui vale ressaltar uma série de
problemas internos no partido, dentre eles: brigas, disputas por espaço,
vaidades e egos inflados -, foi inadmissível a forma como o retiraram da
disputa resultando na vitória do PSB - com ajuda efetiva de petista-, que
concretizaria seu objetivo de desgastar o Partido dos Trabalhadores.
Em 2014, já com o projeto de poder do então candidato do PSB
Eduardo Campos em ser candidato a Presidência da Republica, houve o afastamento
politico das duas legendas, ficando claro qual o papel exercido pelo PT no
ressurgimento do então desgastado e praticamente sepultado PSB desde o episódio
dos Precatórios no final dos anos 90 e meados dos anos 2000. Colocando uma
candidatura própria, o PSB - o que não seria o problema principal, afinal todos
os partidos desejam expandir seus raios de poder - afastou principalmente as
duas legendas expondo a maneira traiçoeira com que pratica política.
No primeiro momento, o PSB lançou o então ex-governador Eduardo
Campos à Presidência da República. No entanto, esse objetivo foi interrompido
em razão da sua trágica morte. Naquele momento, a militância do PSB/PE lançou
severos, injustos e levianos ataques ao PT, acusando-nos pela morte de Eduardo
Campos, através de pichações anônimas e das mídias sociais. Depois, o PSB/PE
preferiu se ajustar aos seus algozes de outrora, como Jarbas Vasconcelos,
mirando a destruição do Partido dos Trabalhadores no Estado.
Pernambuco sentiu
esse golpe nas entranhas e, mesmo elegendo o candidato do PSB/PE (Paulo Câmara)
movido pelo clima de comoção e oportunismo, o então candidato do PSDB, Aécio
Neves, candidato adotado pelo PSB com o único objetivo de derrotar Dilma
Rousseff do PT, foi derrotado com mais de 70% dos votos no segundo turno aqui
no estado.
Finalmente chegamos às eleições municipais de 2016, quando o
PT/Recife chegou ao segundo turno com o então Prefeito e candidato a reeleição
pelo PSB/Recife, Geraldo Júlio. A nossa derrota, acreditamos, deveu-se a falta
de uma coordenação afinada com a militância, erros de condução e a falta de
estrutura. Essas falhas foram mais marcantes que o mérito do prefeito eleito do
PSB.
Ainda em 2016, mesmo após inúmeros problemas de unidade interna,
o PT saiu unido na eleição. Essa aparente unidade foi necessária após inúmeras
derrotas (2012/2014)
Para o MOB - Movimento de Base do PT, é necessário compreender
que a Unidade no Partido é algo mais amplo e profundo do que um “ajuntamento”
num processo eleitoral. Apenas passar uma imagem que não corresponde à
realidade interna do Partido, não colabora no fortalecimento do PT. É
necessário que várias táticas e estratégias pensadas nos diversos grupos sejam
comungadas.
E, além disso, é importante aprofundar o debate sobre as
diferenças, de forma fraternal e não fraticidas, cujo objetivo seja o
fortalecimento do Partido, tanto na vitória das urnas quanto junto à base. É
isso que esperamos para as eleições de 2018.
Não há “projeto maior” (PSB), onde só um lado (PT) cede. Não
existe a mínima possibilidade de aliança com os nossos principais algozes
porque, dos adversários, nada se pode esperar que não seja a nossa destruição.
Se a traição já é inadmissível, conspirar se torna imperdoável e foi esse o
papel que o PSB teve no golpe: conspirar e golpear um partido e um líder como
Lula cujo maior “defeito” foi ressuscitar o PSB nos anos 90.
É notório que a militância e seus filiados não ACEITAM, não
ADMITEM, não APOIAM e não VOTAM em traidores do povo. O Brasil que vivemos
atualmente – machista, racista, homofóbico, preconceituoso, fascista, atrasado,
corrupto - e comandado por uma quadrilha no Executivo, no Legislativo e no
Judiciário, é fruto EXCLUSIVAMENTE dos 29 votos do PSB. Se a historia não pode
ser apagada, nossa memória não nos permite esquecer.
Urge no PT uma posição de protagonista nessas eleições no Estado
E ESSE PROTAGONISMO SÓ VIRÁ COM CANDIDATURA PRÓPRIA.
Nesse sentido, cabe ao PT tarefas fundamentais que foram
deixadas de lado, tais como: o trabalho de organização das bases (e não a
divisão) e o processo de formação politica como estratégia de fortalecimento do
Partido em Pernambuco e no Brasil.
Dizer que a candidatura própria é fundamental para conquistamos
uma bancada, chega a ser retórica, pois a necessidade é muito mais de se
reerguer, trazer a confiança e respeito dos seus militantes e, principalmente,
fazer renascer a esperança de podemos ser atores e atrizes sociais, politicas e
da nossa própria historia.
Nesse sentido, o MOB reafirma sua posição em defesa da
candidatura própria, abrindo espaços para alianças com partidos que se
posicionaram contra o golpe.
Sabe-se que três candidaturas estão colocadas na disputa
interna, e nós nos colocamos a disposição para ouvir cada um, para nos
posicionar. A democracia que tanto propagamos e defendemos, impõe-nos a
necessidade de saber quais compromissos ideológicos e partidários norteiam
essas candidaturas.
Também nos colocamos comprometidos com a elaboração do programa
de governo, formulação de estratégia de campanha e do diálogo com o povo
pernambucano para elegermos candidaturas do Partido.
Propostas, conteúdo, comprometimento, respeito às instâncias
partidárias, serão esses os objetivos de uma candidatura do PT nas Eleições
2018.
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