terça-feira, 19 de março de 2013

Chuva no dia de São José é esperança para 9 cidades vítimas da seca em PE



Marcadores da Apac mostram barragem completamente seca em São José do Egito (Foto: Luna Markman / G1)A crença católica diz que se chover até o Dia de São José, celebrado nesta terça-feira (19), a safra vai ser boa. Quinze cidades pernambucanas que têm o santo como padroeiro estão em situação de emergência por causa da longa estiagem, mas os agricultores aguardam ansiosamente pela chuva, que não cai em bom volume há muito tempo. Os primeiros decretos municipais de calamidade foram reconhecidos pelo Ministério da Integração em março de 2012. A seca atinge 132.750 mil pessoas nesses 15 municípios, segundo a Comissão de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), a maior parte vivendo nas zonas rurais.

O G1 rodou 1,4 mil quilômetros, cortando nove localidades do Sertão, Agreste e Mata Norte do estado, e acompanhou o sofrimento de vários devotos a São José. Em Capoeiras, a seca afetou 100% da população - são 19 mil habitantes e ninguém mais consegue plantar. Na cidade, 70% do rebanho foi perdido. Em Venturosa, até 40% das fábricas de beneficiamento de leite não estão mais funcionando. Em Brejo da Madre de Deus, apenas 10% as áreas plantadas de banana, principal cultura agrícola da região brejeira do município, foram mantidas. Na cultura de hortaliças, o desemprego atinge cerca de 40% dos produtores em Bezerros.
Sindicatos de trabalhadores rurais e autoridades das prefeituras municipais pedem mais ações dos governos estadual e federal, como envio de ração animal e carros-pipa, perfuração de poços e construção de barragens. O governo estadual apontou algumas dificuldades operacionais e infomou ações previstas para este ano. Mesmo neste cenário verde desbotado, muitos agricultores continuam com fé no santo, à espera de que brotem novamente as cores no roçado.
Natanael Brito, agricultor em São José do Egito, PE (Foto: Luna Markman / G1)Natanael Brito mantém a fé e as orações para
São José (Foto: Luna Markman / G1)
É o caso de Natanael e Erivaldo Brito, pai e filho. Eles moram no Sítio Ipueira, em São José do Egito, no Sertão. Como para todas as famílias daquela zona rural, a água chega em carros-pipa, só para o consumo humano. Assim, não conseguem mais plantar milho e feijão. Sem ter o que dar de comer e beber aos animais, perderam metade das galinhas e do gado. O mais velho se agarra à imagem de São José que roubou da mãe anos atrás. "Naquela época, não tinha chuva, então 'carreguei' dela e rezei o terço. Deu certo, tiramos até renda, mas ela reclamou tanto... Fico nervoso até hoje se escuto um trovão e não deixo de ter fé nele, fé de que vai chover", diz.
Fé x previsão do tempo
Em várias tradições religiosas, trabalhadores da terra desenvolveram mitos, ritos e louvores a deuses e santos para conseguir boas colheitas e, consequentemente, alimento para os animais, como explica o professor de teologia da Universidade Católica de Pernambuco, Artur Peregrino. “Colocado no calendário romano no século 15, o dia 19 de março é de súplica por chuva a São José, na tradição católica", explica. Segundo o estudioso, José, pai de Jesus Cristo, era carpinteiro, mas acredita-se que em épocas de plantio e colheita ele também trabalhava na agricultura. "A gente pode presumir que, por marcar a chegada de um período mais chuvoso, o dia 19 foi simbolicamente escolhido para celebrar o santo, que virou patrono dos agricultores e declarado pelo papa Bento XV como patrono da justiça social", informa o estudioso.
A climatologia explica o porquê dos céus mais cinzentos em março. É neste mês que ocorre o equinócio, marcando o ponto da órbita da Terra em que o dia e a noite têm a mesma duração. É a transição do verão para o outono, no Brasil e, como nos últimos cinco anos, o fenômeno acontecerá nesta quarta-feira (20). "Neste período, espera-se que as chuvas se intensifiquem devido à Zona de Convergência Intertropical estar mais situada ao sul, entre outros fatores", explica o metereologista Vinícius Gomes, da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).
Detalhe da imagem de São José com menino Jesus, em Igreja Matriz de Capoeiras. (Foto: Luna Markman/ G1)Detalhe da imagem de São José com Jesus, na
Matriz de Capoeiras. (Foto: Luna Markman/ G1)
No entanto, não choveu nada nas duas primeiras semanas deste mês nas 15 cidades, segundo relatório da Apac, que ainda alerta. "A previsão climática é de que as chuvas para os meses de março, abril e maio sejam abaixo da média", informa o metereologista. De acordo com a instituição, em março costuma chover cerca 133,5 milímetros no Sertão; 89,1 milímetros no Agreste; e 149,1 milímetros na Zona da Mata. Em fevereiro passado, choveu apenas cerca de 8,6% do esperado no Sertão, 15,2% no Agreste e 34,4% na Zona da Mata.
Festa cancelada e 100% da população prejudicada
Por causa dos efeitos da estiagem e da previsão do tempo nada otimista, a Prefeitura de Capoeiras, no Agreste, decidiu cancelar a programação profana da festa de São José. "Os R$ 300 mil que seriam usados para pagar bandas e montar toda a infraestrutura agora servirão para doar cestas básicas e água mineral a pelo menos três mil famílias cadastradas, além da contratação de carros-pipa, recuperação de poços artesianos e limpeza de cacimbas [espécie de poço] de minação", afirma o secretário municipal de Administração, Gildo Marques.

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